O aniversário do miúdo aproxima-se, fala-se de prematuridade por todo o lado e o meu coração lamechas derrete um bocadinho. Dei por mim a revisitar as fotografias e a sentir um orgulho imenso de tudo aquilo que o miúdo já alcançou.

É porque quando nasce um bebé prematuro entra-se numa estrada com nevoeiro e fraca visibilidade. Nada nos prepara para uma espécie de limbo entre o que estava planeado e o que está a acontecer. Os planos, dados quase como garantidos, já não são possíveis e fica uma incógnita gigante. Não há bolas de cristal nem lançamento de búzios que safem. Ainda me lembro de uma conversa com um médico que nos disse que o percurso do Tomás não ia ser uma prova de velocidade, mas sim uma maratona, com obstáculos.

Reorganizei as expectativas e iniciei o meu treino de competências.

O plano de treinos regular inclui exercitar a paciência, técnicas para acalmar o coração, gestão de processos, pessoas e emoções e processar informações complexas, com diferentes variáveis. A gestão do tempo e o trabalho em equipa com todos os profissionais de saúde são também praticados com muita intensidade.

E o tempo? Conta-se de maneira diferente: idade gestacional, idade corrigida, idade real. 

É fazer as contas. 

Na neonatologia as horas são longas e cheias de esperança. Foi lá que festejei conquistas inesperadas: as primeiras horas de vida sem ocorrências, chegar de manhã e saber que a noite tinha corrido bem, o primeiro colo dias depois do nascimento, o primeiro banho fora da incubadora, as primeiras 24 horas sem sonda alimentar. Ufa. Tenho de ficar por aqui senão não me calo. 

Viver um dia de cada vez nunca teve um significado tão real e literal.

A prematuridade muda a forma como se olha para cada dia, altera a percepção do tempo mas não nos define. Muito menos ao Tomás. Todo ele exemplo de superação e amor.

A quem estiver neste limbo: muita força, esperança e persistência. Mais tarde ou mais cedo o barco vem à tona.