Um internamento, mesmo que planeado, é uma sova brutal,
no corpo e na alma.
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Agora já estamos em casa mas eu ainda levo uns tempos a processar tudo isto e a deixar de sentir tudo com tanta intensidade.

Independentemente das intervenções médicas: os monitores apitam a qualquer hora do dia e da noite e há aquele burburinho dos médicos, enfermeiros e terapeutas. Dormir no cadeirão não rima com conforto. São telefonemas e videochamadas a tentar diminuir as distâncias. São novas rotinas, regras e horários.

Eu tento focar no acto de dar mimo na tentativa de minimizar qualquer mal-estar e de desviar a atenção. Ao mesmo tempo que tenho de comunicar com e processar toda a info de todos os médicos e enfermeiros.

É também no meio deste caos que recebo e dou apoio a pessoas que nunca vi.

Não conheço as suas histórias, não sei de onde vêm, para onde vão. Mas sei que estão num momento frágil, tal como eu. Ali entramos numa bolha, em que estamos lá umas para as outras. Quer seja para trazer uma água, para deitar um olhinho numa ausência, para se conseguir ir à casa de banho ou para chamar a enfermeira numa emergência.

Desta vez ficou por dar um abraço ao miúdo (e à mãe dele) que assim que chegamos queria fazer uma festa connosco. E quando ouviram o Tomás a falar no homem-aranha fizeram o desenho que está na foto e o colaram na parede para que ele pudesse vê-lo sempre.

Ficam sempre por dar abraços apertados às mães e pais com filhos internados. Que na verdade não querem abraços, só querem ir para casa.