Hoje é dia de festejar a ida para casa. Parece ironia festejar uma ida para casa em pleno confinamento, mas não é.

Há 2 anos, a médica de neonatologia perguntava-me se eu queria levar o Tomás para casa. Com as lágrimas a escorrer pela cara pedi-lhe que só me dissesse aquilo se fosse mesmo a sério. E era.

O Tomás tinha atingido as autonomias necessárias, a burocracia já tinha sido tratada e naquela tarde levamo-lo para casa. Hoje lembro-me de cada passo e no dia senti que estava a viver uma experiência extra-corporal. 

Não pensava muito nesse dia (como uma espécie de defesa emocional), mas desejava-o com todas as forças. Tinha um sorriso parvo que não conseguia tirar da cara. Tinha o coração acelerado. E de repente estava também cheia de medo. Já sabíamos, qb, viver sem monitores, mas não conhecíamos a vida sem médicos e enfermeiros durante 24h, 7 dias por semana.

Passar pelas portas da Neonatologia com o Tomás foi um bocado surreal. Todo o caminho para casa foi muito especial. Em casa percorremos todas as divisões para lhe apresentar os seus aposentos. E nessa noite rimos a pensar que tipo de rituais farão os pais por este mundo fora quando levam os bebés para casa.

Nessa noite tivemos de sacar dos truques que nos ensinaram. O rádio a tocar e uma luz acessa para simular o barulho e a luz que sempre havia na neonatologia.

Essa foi a primeira noite a 3, no nosso conforto. Hoje brindo ao privilégio do conforto. Do conforto do coração, do lar e da família. A alcançar metas e sentir ao mesmo tempo que estamos na linha de partida mesmo antes de ouvir o sinal para começar.