A celebrar o primeiro aniversário do Tomás e a ser tomada por uma avalanche de emoções. Tivemos momentos tão duros e tão bons, de superação. O futuro continua a ser uma incógnita muito grande e nós seguimos a celebrar cada vitória.
Algures no tempo e numa das (mil) pesquisas sobre prematuridade encontrei um texto, muito partilhado. Diz-se ser uma carta de uma mãe de prematuro e de autora desconhecida. Eu senti na pele (e no coração) cada palavra daquela carta. Peguei nela, como numa receita, desconstruí-a e pintei-a com um bocadinho da nossa realidade:
Do nosso peixinho que precisou do seu tempo no aquário. Mas que teve sempre o seu polvinho a fazer-lhe companhia.
A primeira viagem do Tomás em torno do sol foi cheia de aventuras, histórias e conquistas que nunca vamos esquecer.
Começou com o despreparo. Em não segurar o Tomás nos braços quando nasceu. Foi tentar explicar a todos quanto ele media e pesava porque era de difícil compreensão.
gramas • centímetros • idade gestacional • idade corrigida • idade real
Foi admirá-lo pela incubadora e nos intervalos espreitar o monitor. Sempre o monitor a apitar.
Foi raramente ver o seu rosto sem algum tipo de aparelho respiratório ou de alimentação. Não poder pegar nele nem beijá-lo quando eu queria ou até mesmo tentar amamentá-lo.
Foram os primeiros colos, sorrisos, desconfortos e fraldas trocadas dentro da incubadora.
Foram dias intensos, com horas longas mas cheias de esperança. Foi o silêncio da casa vazia e o isolamento. Foi contar os dias de forma diferente. Idade gestacional, idade corrigida, idade real. É fazer as contas.
Tirar leite com a máquina de 3h em 3h, de dia e de noite, para que ele possa bebê-lo através da sonda. Dores no braço de segurar a sonda com o leite e o coração a rebentar de alegria por cada biberão que foi substituindo a sonda.
Perceber de termos médicos e doenças difíceis de explicar.
Horas e horas de colinho canguru, a cantar-lhe músicas de embalar, numa sala movimentada. A paranóia das gramas e a ansiedade dos trajectos casa-maternidade-casa. To-dos-os-di-as.
Aprender o que é uma baixa de saturação e a viver com uma garrafa de oxigénio, óculos nasais, sensores e oxímetros. Foi ter de pedir diariamente para estar com o meu filho, nos intervalos das intervenções necessárias.
Enfermeira, como é que ele passou a noite? Dr, já chegaram os resultados das análises? Auxiliar, precisamos mudar tudo porque o Tomás fez chichi para a incubadora…
Foram conversas longas com a testa encostada na incubadora e as lágrimas a cair pelo rosto.
E ter alta da neonatologia com abraços e com todos os outros pais e mães a festejarem tal como querem festejar quando chegar o seu dia.
A tudo isto juntamos a gratidão à família de sangue e à família de coração. Aos que nos cozinharam refeições e aos que nos prepararam pães-de-ló. Aos que nos enviaram encomendas do supermercado e miminhos para o Tomás. E aos que decoraram o cantinho do Tomás para o recebermos.
Aos que estão sempre do outro lado das videochamadas. E aos que fizeram muitos (ou poucos) quilómetros para nos verem.
Aos que planearam uma recepção surpresa ao Tomás. Aos que trocaram mensagens infinitas connosco, quando estávamos a palpar este novo mundo.
Este miúdo é tanto. Guerreiro. Resiliente. Valente. Estável.
Arrancador de fios. Fazedor de cocós que saem da fralda. Bem disposto. Maroto (socorro!).
Nós (mãe e pai) seguimos malucos com cada superação do miúdo e com medo do vento, da bronquiolite, do inverno e do hospital. À nossa malta pedimos que continuem a mandar vir amor, boas energias, que nos dêem crédito e tempo.